Copa do Mundo de 1978: Argentina campeã sob polêmicas em uma ditadura

Se até então somente duas seleções sul-americanas haviam ganhado o Mundial, na Copa de 1970 essa situação mudou para sempre. Foi no ano em questão em que a Argentina entrou para a história e se colocou como uma das grandes equipes do mundo – mas não sem antes se envolver em algumas polêmicas.

Aquela Copa do Mundo voltou a ser realizada nos moldes do Mundial da Alemanha, de 1974. Isso porque o sistema de enfrentamento das seleções havia mudado, com o fim das chamadas quartas e semifinais. No lugar dessa etapa, foram adicionados dois grupos, em que os classificados da primeira fase se enfrentam para definir o confronto da final e do terceiro lugar.

A Copa do Mundo de 1978 foi marcada pela ascensão de mais uma equipe da América do Sul, desta vez a dona da casa. Além disso, consagrou de vez a boa fase da seleção brasileira que, mais uma vez, mostrou ser um time forte e que estava pronto para disputar as etapas finais do Mundial.

O caminho percorrido até a Copa do Mundo de 1978

A escolha do país sede da Copa do Mundo nem sempre é uma situação fácil. Por diversas vezes, o local selecionado para sediar o maior evento de futebol do planeta foi alvo de críticas ou contestações por uma série de questões, sejam elas políticas ou por puro interesse de outros países.

No entanto, na Copa do Mundo de 1978, pode-se dizer que as divergências chegaram a um outro patamar. Isso porque àquela altura, a Argentina estava imersa em uma dura ditadura militar, a qual perdurou no país sul-americano até meados de 1983. A situação incomodava muitos dos participantes e organizadores do evento.

A situação fez com que o futebol fosse colocado por um tempo em segundo plano e se debatesse o boicote ou não da competição, como forma de protesto ao regime totalitário vivido na Argentina. Toda a questão da violação dos direitos humanos no país durante aquele período cerceava a possibilidade de uma Copa.

Ainda que com protestos e dúvidas, acabou que a Argentina seguiu sendo o país sede da Copa do Mundo de 1978. Todas as seleções classificadas apareceram para disputar a competição, que chegava à sua décima primeira edição. Mas aquela estava longe de ser a única polêmica do Mundial.

O resultado das eliminatórias da Copa do Mundo de 1978

A Copa do Mundo de 1978 mais uma vez foi marcada por um recorde de inscrições de seleções em busca de uma vaga. Ao todo, 99 países se inscreveram para disputar as Eliminatórias, que iriam definir os classificados para o maior evento esportivo do mundo – ainda que em um cenário duvidoso.

Novamente, 14 vagas estavam em disputa pelos resultados das eliminatórias da Copa do Mundo. Isso porque a Alemanha Ocidental, última campeã do Mundial naquele momento, e a Argentina, país sede do evento, estavam automaticamente classificados – como ocorre em todas as edições.

Os inventores do futebol, a Inglaterra, novamente acabou não se classificando para a Copa do Mundo. O mesmo aconteceu com a Iugoslávia e União Soviética, que até então eram encaradas como fortes seleções internacionais. A França, no entanto, retornou ao Mundial depois de 12 anos ausente.

Por fim, os classificados das eliminatórias da Copa do Mundo de 1978 foram os seguintes:

  • África: Tunísia;
  • América Central e do Norte: México;
  • América do Sul: Argentina, Brasil e Peru;
  • Ásia: Irã;
  • Europa: Alemanha Ocidental, Áustria, Escócia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Itália, Polônia e Suécia.

Os grupos e resultados da Copa do Mundo de 1978

Como já citado anteriormente, a Copa do Mundo de 1978 repetiu o esquema de classificação e partidas adotado na edição anterior do Mundial. Sendo assim, duas das etapas de mata-mata, quartas de final e semifinais, foram jogadas de escanteio, dando lugar a dois grupos que decidiram os confrontos da final e terceiro lugar.

Em resumo, o sistema adotado na Copa do Mundo de 1978 era o seguinte: na fase inicial, existiam quatro grupos com quatro seleções cada; as duas primeiras colocadas de cada grupo avançaram para uma próxima fase, pautada por dois grupos (A e B), também com quatro seleções cada. O primeiro colocado do Grupo A enfrenta o primeiro colocado do grupo B em uma final, enquanto os dois segundos de cada grupo disputam o bronze.

Primeiramente, ficou definido que esses seriam os grupos da Copa do Mundo de 1978:

  • Grupo 1: Itália, Argentina, França e Hungria;
  • Grupo 2: Polônia, Alemanha Ocidental, Tunísia e México;
  • Grupo 3: Áustria, Brasil, Espanha e Suécia;
  • Grupo 4: Peru, Holanda, Escócia e Irã.

Os resultados da primeira fase de grupos foram os seguintes:

Grupo 1

Itália 2 x 1 França
Argentina 2 x 1 Hungria
Itália 3 x 1 Hungria
Argentina 2 x 1 França
França 3 x 1 Hungria
Itália 1 x 0 Argentina

Grupo 2

Alemanha Ocidental 0 x 0 Polônia
Tunísia 3 x 1 México
Polônia 1 x 0 Tunísia
Alemanha Ocidental 6 x 0 México
Alemanha Ocidental 0 x 0 Tunísia
Polônia 3 x 1 México

Grupo 3

Suécia 1 x 1 Brasil
Áustria 2 x 1 Espanha
Áustria 1 x 0 Suécia
Brasil 0 x 0 Espanha
Brasil 1 x 0 Áustria
Espanha 1 x 0 Suécia

Grupo 4

Holanda 3 x 0 Irã
Peru 3 x 1 Escócia
Escócia 1 x 1 Irã
Holanda 0 x 0 Peru
Escócia 3 x 2 Holanda
Peru 4 x 1 Irã

Para a segunda fase, ficaram definidos os seguintes grupos:

  • Grupo A: Holanda, Itália, Alemanha Ocidental e Áustria;
  • Grupo B: Argentina, Brasil, Polônia e Peru.

Os resultados foram os seguintes:

Grupo A

Alemanha Ocidental 0 x 0 Itália
Holanda 5 x 1 Áustria
Itália 1 x 0 Áustria
Alemanha Ocidental 2 x 2 Holanda
Holanda 2 x 1 Itália
Áustria 3 x 2 Alemanha Ocidental

Grupo B

Brasil 3 x 0 Peru
Argentina 2 x 0 Polônia
Polônia 1 x 0 Peru
Argentina 0 x 0 Brasil
Brasil 3 x 1 Polônia
Argentina 6 x 0 Peru

Terceiro Lugar

Brasil 2 x 1 Itália

Final

Argentina 3 x 1 Holanda

O Brasil na Copa do Mundo de 1978

Apesar de não ter feito o melhor mundial da sua história em termos de atuação, o Brasil, na Copa do Mundo de 1978, conseguiu a conquista do terceiro lugar. No entanto, chegou com algumas incertezas para a competição, com uma troca de técnico durante as eliminatórias e lesões que pesaram bastante para a formação de um elenco conciso.

Cláudio Coutinho foi o técnico da seleção canarinho naquela Copa do Mundo de 1978. Nomes como Zé Maria, então do Corinthians; Carlos Alberto Torres; recém chegado ao Cosmos dos EUA; e Falcão, do Internacional, ficaram de fora daquele Mundial.

Em compensação, o Brasil mantinha um elenco ainda muito forte. Entre as novidades estava o craque Zico, do Flamengo, que viria a brilhar mesmo com a seleção alguns anos mais tarde. Rivelino, então no Fluminense; Toninho Cerezzo e Reinaldo, do Atlético Mineiro; e Roberto Dinamite, do Vasco, eram outros grandes nomes daquela equipe.

Apesar de não ter feito uma campanha fenomenal na fase de grupos, o Brasil foi bem e esteve muito próximo de jogar mais uma final de Copa do Mundo, desta vez contra a Holanda. No entanto, um escândalo envolvendo a partida entre Peru e Argentina fez com que os hermanos fossem para a final e acabassem campeões.

A grande polêmica da Copa do Mundo de 1978

A Copa do Mundo de 1978 é lembrada até os dias de hoje por conta de uma grande polêmica envolvendo a Argentina. Isso porque na última partida da segunda fase do campeonato, no grupo B, os hermanos precisavam aplicar uma goleada sobre o Peru, que vinha apresentando um bom futebol e não parecia poder perder por um placar tão elástico.

A polêmica começou quando os jogos da rodada final do grupo acabaram sendo realizados em horários diferentes, com a Argentina jogando depois do Brasil. Sendo assim, quando enfrentaram o Peru, os hermanos já sabiam do resultado que precisavam fazer para se classificar para a final: 4 a 0.

O jogo contra os peruanos, no entanto, acabou em um placar ainda maior: 6 a 0 para a Argentina. naos mais tarde, foi comprovado de que os jogadores do Peru foram subornados para permitir que os hermanos aplicassem uma goleada e chegassem a final, com influência até mesmo do regime ditatorial, que acreditava que o título faria popularizar a ditadura no país.

O 6 a 0 fez com que a Argentina se classificasse para a final com o mesmo número de pontos do Brasil, 5, mas com um saldo de gols maior. Na final, ela enfrentou a toda poderosa Laranja Mecânica, mas acabou saindo vitoriosa por 3 a 1.

Artilheiros e curiosidades da Copa do Mundo de 1978

O artilheiro da Copa do Mundo de 1978 foi o argentino Kempes, que anotou 6 gols ao longo do campeonato. Dirceu e Roberto Dinamite foram os brasileiros que mais marcaram naquele Mundial, com 3 gols cada.

Apesar de ainda muito forte, a Holanda chegou para a sua segunda final consecutiva de Copa do Mundo sem o seu principal jogador: Johann Cruyff. O craque da Laranja Mecânica se recusou a disputar um Mundial na Argentina, como forma de protesto ao regime ditatorial.

Ainda que a Copa do Mundo já estivesse consolidada em 1978, questões que beiram o amadorismo volta e meia ainda aconteciam. No Mundial da Argentina, por exemplo, ambas as seleções da França e Hungria chegaram para se enfrentar com o uniforme com camisas brancas e não levaram peças reservas. Em um sorteio, os franceses perderam e tiveram que jogar com camisas verde e branca emprestadas por Mar del Plata, um time argentino amador.

Além disso, a Copa do Mundo de 1978 foi a última com somente 16 seleções. Quatro anos mais tarde, o esquema com 24 times foi adotado pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).